Quando é melhor ficar quieto...
Numa obra qualquer, dessas que você tem um encarregado e
muitos trabalhadores que são contratados na região para reduzir os custos, as
grandes empresas levam seus encarregados de confiança, que normalmente não
moram nem na região, nem na cidade.
Esses encarregados comumente são pessoas que tem um bom
conhecimento técnico e liderança. Mas no nosso caso, o encarregado era o senhor
Geraldo, um homem de meia idade que tinha bom conhecimento técnico, mas não se
importava muito com o relacionamento com os outros funcionários da obra. Dentre
os contratados um deles era Valdecir, um rapaz bom de braço, daqueles que
descarrega um caminhão de sacos de cimento com facilidade, e sem choradeira.
Senhor Geraldo notou o trabalho desempenhado de Valdecir,
mas como não se importava com o relacionamento, começou a chama-lo de Zé
Buceta. Zé Buceta faz isso, Zé Buceta faz aquilo e sempre passando trabalho a
Valdecir, referindo-se a ele como Zé Buceta, sempre rindo, estilo bonachão,
dava alguns privilégios de horários para Valdecir, mas nada de chama-lo pelo
nome.
Ao final da obra, é comum a grande maioria dos funcionários
entrarem na justiça contra a empresa, pleiteando valores com horas extras. Mas
o caso de Valdecir foi diferente, ele entrou com processo de assédio moral
contra o Senhor Geraldo, o seu encarregado.
O Juridico da empresa que cuida desses casos estranhou, pois
nunca havia um caso semelhante. Mas se precaveu e acertou várias testemunhas
que trabalharam na obra junto com Valdecir e Geral para testemunhar a favor de
seu encarregado.
Chegado o dia da audiência, o juiz solicitou a entrada do
requerente Valdecir, que explicou ao Juiz que: durante todo o seu período de
trabalho na obra, que seria quase um ano, sempre fora chamado de Zé Buceta, e
isso o deixava encabulado e humilhado perante os colegas.
O juiz chamou as testemunhas de Valdecir que tinha duas
pessoas ligadas a ele, que reafirmaram o testemunho de Valdecir.
Logo em seguida o Juiz mandou chamar a primeira testemunha
de defesa a pedido do advogado da empresa.
Serenamente a primeira testemunha disse que Valdecir era o
preferido de Senhor Geraldo, que tinha privilégios e era muito bem tratado.
O juiz mandou entrar a segunda testemunha e o texto quase
que literal foi repetido, com o agravante que essa proteção e cuidado que
Senhor Geraldo tinha com Valdecir era motivo de ciúmes de alguns funcionários.
Na oitava testemunha fazendo o mesmo discurso das duas
primeiras, o juiz já estava com a pulga atrás da orelha, achando que Valdecir
estava querendo aplicar um belo golpe de assedio. Mandou que parasse as testemunhas
e que fosse chamado à falar o Senhor Geraldo, para tentar sentir as reações dos
dois, frente a frente.
Senhor Geraldo entrou na sala, com seu jeitão de bonachão,
sorridente, e um certo ar caipira. Parou à frente do Juiz e ficou olhando para
ele. O juiz percebeu a simplicidade do homem, perguntou:
- Senhor Geraldo, o senhor
tem ciência do que está sendo processado?
Senhor Geraldo respondeu cabisbaixo, em respeito a
autoridade.
- Olha seu Juiz, o advogado falou que é um tal de assedio,
mas não sei direito muito bem o que é não.
O juiz deu aquela olhada técnica para o advogado e
discorreu.
- O senhor está sendo acusado de assedio moral contra o
Senhor Valdecir. Significa que o senhor por um tempo, o tempo de obra que
trabalharam juntos, o senhor constrangeu e humilhou o senhor Valdecir, (apontou
para Valdecir sentado) perante os outros funcionários, o que causou traumas ao
Valdecir a ponto de fazer com que ele pedisse demissão e entrasse com este
processo para reparar esse constrangimento.
Seu Geraldo prestou bem atenção no que o Juiz falou,
levantou a cabeça o olhou para o Valdecir e disse ao Juiz:
- Esse Zé Buceta ai?
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